O Intereclesial das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) celebra, em 2025, meio século de existência, um marco histórico para o Brasil e para a Igreja. Esse encontro, que reúne milhares de lideranças das bases, é expressão viva da opção preferencial pelos pobres e da atuação transformadora do Evangelho nas realidades sociais e políticas do país.

As CEBs nasceram no contexto do Concílio Vaticano II e da Conferência de Medellín, em uma Igreja chamada a ser mais próxima do povo, dialogando com suas dores e esperanças. No Brasil, a década de 1970 foi crucial para a consolidação desse movimento, em meio a um regime ditatorial que reprimia as vozes dos mais pobres e marginalizados.

As Comunidades Eclesiais de Base se tornaram um espaço de formação espiritual, organização social e resistência. Inspiradas no Evangelho e no compromisso com a justiça social, as CEBs promoveram a conscientização crítica, a organização popular e o protagonismo dos leigos na Igreja e na sociedade.

Os Intereclesiais: Espaços de Partilha e Profecia

Em janeiro de 1974, Dom Luíz Gonzaga pegou o carro e partiu em direção a Setiba, Guarapari – ES, para passar alguns dias de férias na praia com seu amigo Eduardo Hoornaert. Foi nesse contexto que Dom Luíz teve a inspiração de promover o encontro de bispos cujas igrejas estavam acontecendo o mesmo que nas igrejas de Vitória, a realidade das Comunidades de Base. O que se pensou era num encontro entre igrejas irmãs que trocam suas experiências, despretensiosamente, sem ambicionar ser uma cúpula, nem um congresso.

Assim, o primeiro Intereclesial foi realizado em 1975, em Vitória, Espírito Santo, reuniu cerca de 70 pessoas entre bispos, padres e outros religiosos e teve como tema “CEBs: uma Igreja que nasce do povo pelo Espírito de Deus” e desde então, a cada poucos anos, os encontros se tornaram momentos marcantes de partilha, celebração e profecia. Os leigos só participaram do segundo encontro.

O segundo encontro, também aconteceu no Espírito Santo, entre os dias 29 de julho a 1 de agosto de 1976, e contou com a presença de bispos brasileiros e latino-americanos (México, Peru e Chile), representantes da igreja da Belgica, da Alemanha e da Áustria, e a participação de mais de 100 pessoas incluindo leigos. Desta vezes o tema escolhido foi: CEBs: Igreja, povo que caminha”.  A partir daí começa-se a delinear a identidade das CEBs; passa-se a utilizar o jargão “caminhada”. Identificadas as semelhanças entre si, as várias comunidades eclesiais de base passam a se tratar como companheiras de caminhada. As CEBs dão seus primeiros firmes passos, tendo os pequenos à frente.

Ao longo das décadas, os Intereclesiais abordaram temas como direitos humanos, ecologia, economia solidária, cultura indígena, racismo, juventude e a luta pela terra. A diversidade cultural e social das comunidades é celebrada, enriquecendo a Igreja com suas múltiplas vozes.

50 Anos de Compromisso com o Reino de Deus

O jubileu de ouro do Intereclesial das CEBs é uma oportunidade de rememorar a caminhada, reafirmar compromissos e projetar o futuro. Em um momento histórico marcado por desafios globais como a desigualdade, a crise climática e as novas formas de exclusão, as CEBs continuam sendo luz e fermento no tecido social brasileiro.

A celebração dos 50 anos também é um chamado para que a Igreja como um todo redescubra a essência comunitária, missionária e profética que as CEBs representam. Com sua espiritualidade libertadora e ação concreta, elas permanecem como um testemunho vibrante do Evangelho em ação.

Um Convite à Esperança

Os 50 anos do Intereclesial são motivo de festa, mas também de renovação. A memória da caminhada inspira novas gerações a se engajarem na luta por uma sociedade mais justa, fraterna e solidária, sempre alicerçada nos valores do Reino de Deus.

Neste jubileu, as Comunidades Eclesiais de Base reafirmam: “Somos Igreja do povo, comprometida com a vida e a esperança. Somos CEBs, a força profética do Evangelho no coração do Brasil.”