Entre os dias 02 e 04 de julho passado, ocorreu em Fortaleza o VII Congresso Nacional de Educação Católica, promovido pela ANEC, com quase três mil participantes. Foram dias intensos de estudos, debates e celebrações, com muitas apresentações de experiências educativas inovadoras.
Um dos debates que mais chamaram nossa atenção diz respeito ao currículo evangelizador. Em que consiste esta questão? Seria um currículo sob a forma de catequese como o que se pratica nos diversos grupos de catequese? Ou seria semelhante ao que se ensina na disciplina de Ensino Religioso?
As escolas católicas, em sua grande maioria, construíram seus projetos pedagógicos separando a ação pastoral, a cargo de um departamento ou um coordenador, e a ação pedagógica que se responsabiliza pela formação acadêmica. Com isso, encontramos na instituição uma espécie de dicotomia, separação entre duas áreas que pouco ou nada dialogam entre si. A identidade confessional fica diluída na abordagem genérica de valores ditos católicos.
Nasce nesse contexto um dos maiores desafios das escolas católicas nos próximos anos. Como reformular seus currículos de modo a inserir a identidade católica permeando todas as experiências educativas, manifestando-se de maneira orgânica no projeto
pedagógico?
Não se trata apenas de reformular os papéis e organogramas institucionais, mas de renovar a estrutura de vida e vivência da comunidade escolar em seu conjunto. Cada agente educativo dessa comunidade possui responsabilidade evangelizadora. Disso recorre outro desafio que é a seleção dos profissionais que devem atuar na escola. Deveriam ser batizados e católicos? Como impor a alguém que nem é cristão um compromisso evangelizador?
A Instrução do Dicastério para a Cultura e a Educação (cf. nº 18) nos garante que “o que define a identidade da escola católica é a sua referência à verdadeira concepção cristã da realidade”. Como compreender esse requisito fundamental definido pela Igreja Católica?
Um currículo evangelizador requer a transposição didático-pedagógica da fé, tomando os conteúdos definidos pela Lei (Base Nacional Comum Curricular), articulando-os com os valores cristãos, com metodologias e abordagens que levem ao desenvolvimento integral da pessoa.
A evangelização explícita presente no currículo evangelizador tem um caminho ao tomar o que é próprio da tradição católica como a Campanha da Fraternidade, a Pascoa, datas comemorativas de santos padroeiros ou fundadores de congregações religiosas, festas religiosas, tornando-os presentes no calendário escolar. Daí surgem práticas formativas e momentos celebrativos.
Podem ser inseridas práticas inovadoras como se tem visto em alguns lugares como a bênção de mochilas em início de ano escolar dando um sentido bem evangelizador a este momento, objetivando “uma concepção cristã da realidade” e não apenas um momento quase “mágico”. Como construir essa prática no contexto de um currículo escolar?
Este momento, que tem crescido em muitos lugares, se encaixa no chamado do Papa Francisco em prol de um Pacto Global pela Educação, criando laços e pontes entre escola, família e sociedade. Com que objetivo? Desenvolver um compromisso pelo desenvolvimento integral da pessoa alicerçada no humanismo solidário e na proteção da casa comum. A bênção recebida no início do ano letivo aponta para esta realidade de compromisso e de criação de laços.
Outra forma de evangelizar é aquela realizada por Jesus no caminho de Emaús. É aquela que se coloca ao lado da pessoa, não para cooptá-la, mas para levá-la ao aprofundamento da experiência cristã. É feita de maneira sutil, mas não sorrateira. É a que faz com que cada ator ou educador da comunidade escolar seja portador do amor universal, da caridade, da justiça social, do bem comum, da partilha, do desapego aos bens materiais, da verdade, do perdão, da solidariedade, etc.
Deste modo, um currículo evangelizador implica em desenvolver aprendizagem sob a forma de atitudes a serem desenvolvidas com os educandos. São ações socioambientais, socioemocionais, espirituais, objetivando o desenvolvimento integral da pessoa.
Edebrande Cavalieri








